Todo mundo sabe o que é uma palmada;
muitos já levaram algumas em certo momento de suas vidas como método de
disciplina. As palmadas despertam lembranças de punição corporal na
infância ou adolescência e, por isso, são associadas a uma figura de
autoridade. Isso, além da proximidade física com que as palmadas são
dadas, faz dessa prática algo especial, porque é muito mais pessoal e
íntima do que qualquer outra. Além de causar sensações únicas, uma
sessão de palmadas (chamado de “spanking” em inglês) é uma das
práticas mais comuns de disciplina no BDSM por ser uma das poucas que
podem ser feitas sem nenhum equipamento: tudo o que você precisa é de
uma mão e uma pessoa para receber as palmadas.
As palmadas podem ser dadas em uma
infinidade de posições e geralmente atingem os glúteos ou a parte
superior das coxas. Sessões também podem incluir o uso de outros
implementos, como palmatórias, cintos, chinelos, réguas ou outros
brinquedos. Algumas posições podem tornar o uso de certos brinquedos
desconfortável para o dominante, ou até mesmo perigoso para o submisso.
Técnicas e segurança
Essa prática pode ser uma experiência
bastante erótica, porque a sensação de queimação gerada nos glúteos se
espalham por toda a área pélvica do submisso, aumentando rapidamente a
excitação sexual: uma sessão de palmadas mais lenta, alternando entre
tapas fortes e leves e pequenas massagens, pode ser muito excitante.
Para aqueles que curtem a dor, isso funciona como um aquecimento: além
de aumentar o limite de dor do submisso, as pancadas mais fortes não
machucam tanto, porque as palmadas mais leves fazem com que os glúteos
acumulem sangue, o que “acolchoa” os tapas mais fortes.
A dor gerada pelas palmadas pode perdurar
por vários dias após o término da sessão. O que faz mais diferença não é
a força dos tapas, mas a duração da sessão: durante as palmadas, os
nervos dos glúteos ficam adormecidos, o que reduz muito a dor inicial.
Para quem tem intenção de causar dor, como por exemplo, em punições, o
ideal é dar palmadas mais leves, para não cansar o braço, e dar
intervalos entre as sessões para que os nervos fiquem ativos novamente.
Há várias coisas que podem ser feitas
para aumentar a tensão sexual do submisso: você pode usar jogos de
palavras, contando o que vai fazer, ou privá-lo dos sentidos, por
exemplo, com uma venda nos olhos, causando uma antecipação maior. Nada
impede que sejam usados brinquedos, como vibradores ou plugs anais, ou
outras idéias mais criativas, como brincadeiras com cubos de gelo.
Beijos, modidas, massagens; tudo é permitido. Alternar o lugar que está
recebendo as palmadas, como por exemplo, entre o interior das coxas e o
“sweet spot” dos glúteos – aquele lugar onde as coxas e as nádegas se
encontram, bem no centro -, pode ser bem estimulante. Tomando-se o
devido cuidado, dá pra integrar até mesmo tapas mais leves na região
genital.
Para causar mais dor com a mão, separar
os dedos durante o tapa faz com que a ardência se espalhe por uma área
maior e diminui a resistência do ar, aumentando a força da palmada.
Outro modo é manter a mão um pouco curvada, com os dedos unidos e o
pulso rígido, o que causa uma sensação similar a de uma palmatória.
O corpo do submisso responde à uma sessão de palmadas prolongada com uma “overdose” de endorfinas, que pode levá-lo ao “subspace“,
um estado onde toda dor é transformada em prazer; nesse momento, como o
submisso parece não se incomodar com a dor, alguns dominadores podem
acabar se empolgando e achando que devem bater mais forte. É importante
que o dominador saiba quando parar para previnir acidentes mais graves.
Jamais atinja uma área do corpo que esteja esbranquiçada, ou você pode
causar hematomas sérios. O ideal é alternar entre as áreas que serão
atingidas para que os nervos não adormeçam rápido demais.
Posições adequadas
A posição selecionada é algo que deve ser
discutido entre os praticantes. Um dos fatores que destaca as palmadas
de outras formas de discipina é o posicionamento deliberado e, às vezes,
até ritualístico dos parceiros. Tanto o dominador quanto o submisso
adotam posições que facilitam e realçam as palmadas. Geralmente, as
posições funcionam de modo vantajoso para o manuseador e desvantajoso
para o submisso: o dominador usufrui de diversas vantagens de acordo com
o posicionamento. Em pé ou sentado, o dominador é posicionado para se
manter confortável durante toda a sessão de palmadas, com capacidade de
extender e balançar o braço tranquilamente em um ângulo natural.
Enquanto em pé, o manuseador pode não apenas balançar o braço, como
também girar o corpo em torno de si mesmo; por conta dessas vantagens,
as palmadas podem ser aplicadas com mais precisão e força.
A posição do submisso é planejada para
expôr completamente seus glúteos, enquanto a posição relativa do
manuseador deve colocá-lo em um ângulo e altura convenientes; assim, o
dominador pode facilmente ver, mexer, beliscar, acariciar e bater. Além
disso, como o dominador tem mais facilidade de atingir os glúteos no
ângulo correto, as chances do tapa acabar em um lugar muito alto ou
muito baixo é menor, reduzindo os riscos de acidentes. Todas essas
vantagens fazem com que o dominador possa manipular o submisso a seu
favor e detê-lo a qualquer momento.
É importante que o submisso também esteja
relativamente confortável, especialmente em sessões mais longas, para
que possa se concentrar nas sensações causadas em sua região traseira.
Para sessões de punição, o submisso pode ser colocado em uma posição que
o obriga a empinar e expor seus glúteos continuamente para a próxima
palmada. A inclinação do submisso para empinar a bunda sinaliza o início
de uma sessão de palmadas e reforça a antecipação.
A posição clássica para palmadas é o submisso deitado sobre o colo do dominador (OTK, do inglês “over the knee“,
“sobre os joelhos”). As mãos do submisso podem tocar o chão ou a
cadeira e seus quadris devem ficar sobre a coxa do lado da mão dominante
do dominador. O braço do dominador deve sobre as costas inferiores do
submisso, o cotovelo confortavelmente entre os ombros e a mão segurando a
cintura firmemente. Isso serve para estabilizar o equilíbrio e previnir
quedas, além de dar ao dominador o controle de restringir os movimentos
do submisso. Essa posição é feita melhor em uma cadeira com recosto ou
algum outro assento onde o dominador possa sentar confortavelmente com a
coluna ereta e aguentar o peso do submisso.
Há algumas variações dessa posição, tais como o submisso inclinar
sobre uma coxa do dominador enquanto tem suas pernas presas entre as
pernas do seu parceiro. Esse é um modo eficaz de impedir chutes
involuntários e interferências, além de aumentar a humilhação do
submisso.
Uma bunda propriamente posicionada tende a
ser atingida mais forte e por uma mão mais cheia no sweetspot, a região
de sentar. Ser colocado no colo do dominador é uma postura infantil e
degradante; ter de adotar a posição por conta própria é humilhante por
si só e ressalta o fato de que o submisso não está levando qualquer tipo
de punição corporal, mas especificamente palmadas. Os glúteos devem
estar totalmente expostos, com as nádegas bem exibidas e separadas e a
região inferior virada pra cima. O ânus, assim como o escroto ou a
vulva, ficam inteiramente visíveis.
O posicionamento para as palmadas colocam
toda a atenção na bunda do submisso, enfatizada pela exposição e por
estar virada relativamente ao dominador. Se colocar numa posição para
ser punido cooperativamente é um dos atos primários de submissão. Além
disso, o submisso sente que está empinando e expondo os glúteos
voluntariamente para ser punido e sabe que se encontra vulnerável e
incapaz de desviar ou fugir das palmadas, mesmo se tentar: uma vez
posicionado, o submisso renuncia todo o seu controle e não espera
recuperá-lo até o término da sessão.
Em pé, o submisso pode contrair os
glúteos, atenuando a dor do tapa e da exposição. Em uma posição
apropriada, é extremamente difícil contrair os músculos e as palmadas
serão aplicadas em glúteos relaxados e balançantes.
Há outras posições interessantes, como deitar o submisso de bruços em
uma superfície plana com seus quadris e glúteos elevados por
travesseiros; inclinar o submisso sobre uma mesa ou balcão, ou mesmo
sobre o fundo de uma poltrona ou cadeira; e fazer com o que o submisso
flexione sobre si mesmo, segurando suas próprias pernas, tornozelos ou
joelhos – essa é a posição mais clássica para o uso de palmatórias. Não
importa a posição, o dominador deve ter espaço suficiente pra tudo o que
pretende manusear na sessão e acesso livre ao submisso sem precisar
fazer esforço.
“Aftercare”
Após uma sessão de palmadas, o submisso precisa de “aftercare”
apropriado, assistência tanto física quanto emocional. Cada pessoa tem
necessidades diferentes e é interessante discutí-las com o seu parceiro
antes da sessão. O dominador precisa estar preparado para dedicar seu
tempo e atenção para o bem estar do submisso, que pode ter reações
inesperadas. Para algumas pessoas, abraço e carinho pode ser
confortante; outras gostam de serem deixadas sozinhas por um tempo. Pra
todo caso, uma sessão longa de punição corporal pode ser muito
cansativa; ofereça água ao submisso e leve-o a um local confortável e
aconchegante. No caso de machucados ou hematomas, ou até mesmo para
aliviar a dor, muitos se sentem aliviados com massagens feitas com
loções específicas.
Além disso, essas sessões tendem a ser
emocionalmente desgastantes, também para o dominador, mas principalmente
para o submisso, que pode se sentir vulnerável e confuso, com
sentimentos de humilhação e insegurança. Isso pode ser ainda pior caso o
submisso tenha alcançado o subspace, porque leva um tempo até
que as endorfinas voltem ao nível normal e, nesse momento, os lugares
que não doiam antes passam a doer. O submisso precisa, acima de tudo,
sentir que está recebendo atenção, companhia e respeito do seu dominador
enquanto processa tudo que está acontecendo com ele. Um aftercare
bem feito é uma finalização maravilhosa para qualquer sessão e aumenta
incrivelmente a intimidade e a confiança entre os parceiros.
Em caso de punições em relacionamentos de disciplina, o aftercare
será obviamente diferente, mas ainda é importantíssimo que o submisso
compreenda e seja assegurado de que foi perdoado e que ainda receberá
cuidado e carinho do seu dominador.